17.3.09

Aqui me manifesto: sou contra ser-se a favor do contra só por favorecimento

Por Mauro Tristão, pessimista de serviço

A semana passada infelizmente não foi possível retomar estas crónicas. Depois de sair do congresso de Espinho fui desviado de má fé para Espanha e custou-me muito ter que voltar a este país. Chego no entanto a tempo de assistir à inutilidade da sua existência.
A manifestação da semana passada parece ter lançado Portugal no caminho da revolução. Não só me dói a alma como um joelho que nunca me foi bom e por vezes dou comigo de olhar vazio ao infinito a pensar como seria se tivesse ficado em Espanha. Mas tinha de me livrar do meu sequestrador e fugi.
Duzentas mil pessoas desfilaram por Lisboa, manifestando-se contra as políticas do governo. Lisboa parou. Eu saí de casa, cheguei ao fim da rua, vi aquele monstro a passar qual dragão chinês sem fim e voltei para casa. Do outro lado da rua ficou o meu amigo Sebastião à minha espera. Nem o avisei. A culpa do meu desvio a semana passada, também foi dele. Depois, no outro dia, disse-lhe que não podia ir ao encontro combinado. Não sei se ainda me fala.
Ficou tudo doido. Disseram logo que foi a maior manifestação de sempre. Até os directores dos jornais escreveram editoriais sobre o ajuntamento. A esquerda congratulou-se, depois disse que não tinha nada a ver com o assunto, que eram o trabalhadores, e depois afirmou que foi uma vitória sua. A direita, que foi mais uma manobra da esquerda, depois juntou-se ao cortejo em protesto contra o governo e clamou vitória porque havia uma pessoa verdadeiramente de direita na manifestação: o senhor Acácio que tem quase cem anos e que eu conheço bem e que, como já tem dificuldade em mover-se, foi arrastado pela Fontes Pereira de Melo abaixo. Só o largaram no Rossio e ele aproveitou para ficar a ver.
O primeiro-ministro primeiro disse que era uma manipulação do PCP sobre a CGTP e depois foi dizer à UGT para não se deixar manipular por partidos. Sobretudo pelo dele que apoia a tendência socialista da UGT que se reuniu para o ouvir falar. Depois disse que amanhã já ninguém se lembra e é verdade.
Esta manifestação foi uma pálida ideia do que é uma manifestação socialmente relevante. Por várias razões. Primeiro porque não faltou gasolina nos postos. Segundo porque não faltou comida nos super-mercados. E finalmente, porque ninguém sabe se lá estiveram duzentos mil. Dantes, os organizadores davam um número, a polícia outro e nós fazíamos a média. Normalmente oscilava entre um máximo de cem mil pessoas e um mínimo de três e a senhora Adelina. Que pela gritaria que faz tem de ser contada à parte, porque com um megafone nos beiços peludos enche o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré. Desde que a polícia passou a concordar com os números da organização para não dizerem que eles não sabem fazer contas – que não sabem –, as manifestações da CGTP passaram todas a ter duzentas mil pessoas, as dos professores mais de cem mil e as dos apanhadores de hortaliça das searas de Almeirim, cerca de trinta mil ou um pouco mais.
Uma manifestação da CGTP com 200 mil, é normal. É mais ou menos a quantidade de pessoas que eles conseguem juntar com meia dúzia de telefonemas e um e-mail com um vídeo engraçado em anexo, sem ter de trabalhar aos fins-de-semana, porque como são sindicalistas que trabalham para um sindicato, não podem trabalhar quando lhes apetece. Há regras. Que são muito bonitas. Mas ainda em Outubro de 2007 houve uma manifestação com 200 mil à porta da presidência portuguesa da EU em plena Expo. Na altura, a CGTP disse que era a maior dos últimos 20 anos e que a partir de então nada seria igual. Mas os jornais e os editorialistas andavam ocupados com o parto do nado-morto Tratado de Lisboa. E ninguém deu por isso. Eheheh! Já nem se lembram.
Desta vez a CGTP fez a manifestação no centro de Lisboa. O trânsito parou e toda a gente deu por ela.
Mas que é isto? Isto é uma brincadeira de crianças. Duzentas mil? Eu gostava era de ver esses senhores a trabalhar a sério e a juntar gente à séria. São precisos 10 gregos para fazer uma manifestação com cocktails de Molotov. Cem franceses de origem africana para pegar fogo a carros e cerca de mil ingleses para haver empurrões à séria desde que um seja de origem irlandesa. Alemães, basta um para f0*3* tudo. Mas é preciso pelo menos um milhão de portugueses para não se avisar pelo menos dez vezes que vai haver m3*da, antes de se começar a bater na polícia. Isto não é nada. Isto é um escândalo para este governo que nem sequer consegue mobilizar gente suficiente para se manifestar contra ele. E é por estas e por outras que a democracia está como está. Quando já nem as pessoas se manifestam, meus senhores, estamos perante o colapso.
Não sei se este país aguenta até ao fim do ano. Tenho cada vez mais dúvidas. E por falar nisso, também tenho cada vez mais dívidas.

PS: Para que fique claro: estou profundamente contra o título desta crónica, que não é de minha autoria.

4.3.09

Congresso espinhoso

Jornalista: Bem vindos. Estamos ainda em Espinho para o comentário de Mauro Tristão ao Congresso do Partido Socialista que terminou no passado domingo. Pergunto-lhe, Mauro, como viu este congresso?
Mauro Tristão:
Antes de mais gostava de lamentar o seu regresso.

Obrigado, mas não mereço tanto sentimento da sua parte...
Nisso tem razão. Olhe quanto ao congresso pareceu-me fraquinho.

Porquê? Por causa da ausência de discussão ou por causa da irrelevância, por Sócrates já ter sido eleito?... Porquê, Mauro?
Este congresso decorreu na Nave Desportiva de Espinho. Como nave, nunca levantou voo, como desportiva nunca mexeu muito e de Espinho não vi sequer um robalo.

Mas há robalo em Espinho?
Não faço ideia, mas digo-lhe que em Espinho costuma haver um evento bem mais entusiasmante...

E qual é?
O Encontro de Homens-Estátua.

Estou a ver...
Era até preferível que tivessem feito o congresso no Casino Solverde. Podia ser que Sócrates ganhasse algum para ajudar à crise que por aí vai.

Quanto ao congresso propriamente dito, o que lhe pareceu a ausência de Alegre?
A sério? Ele não veio? Agora que fala nisso, não ouvi ninguém a declamar a Trova do vento que passa...

Alegre, de facto não veio ao congresso. Não acha isso politicamente relevante?
Achava se Alegre fosse politicamente relevante, mas não é.

Acha portanto que ele não tem a importância que se lhe dá?
Antes pelo contrário. Alegre é o líder da oposição. E este seria o local por excelência para desafiar as políticas do primeiro-ministro. Por isso acho que fez bem em não vir.

Mas isso parece-me um pouco contraditório...
Mas você não tem nada que achar, porque você não percebe nada de política. Se percebesse não era eu que estava a ser entrevistado. É preciso perceber, que Alegre não pode fazer e não deve fazer nada. Ele é o Humpty Dumpty da política portuguesa empoleirado no muro da extrema esquerda. Se ele cair, para que lado for, nem todos os cavalos do rei nem todos os homens do rei, conseguirão juntar os pedaços que dali saírem.

???
Deixe lá. Passe à frente.

E quanto a Vital Moreira, parece-lhe um bom candidato?
Não. Parece-me uma péssima escolha. Vital Moreira é neste momento o maior apoiante e defensor do primeiro-ministro. Bate até o autor deste blogue, por incrível que isso lhe possa parecer a si e a mim. A mim mais, que você é um ingénuo. Mas dizia eu que normalmente, os candidatos às europeias são pessoas que os dirigentes políticos querem ver pelas costas. Com Vital em Bruxelas quem é que vai defender Sócrates? O autor? Ele nem se consegue defender a ele próprio! Foi um tiro no pé.

Acha então que Sócrates devia ter convidado, por exemplo, Alegre?
Você aprende depressa, mas desta vez está enganado: convidado, não, ordenado!

Por falar em ordenar, Sócrates diz que quem mais ordena é o povo e não um director de um jornal ou uma televisão. Referia-se à campanha negra. Acha mesmo que há uma campanha negra?
Claro que há. A não ser que a tenham cancelado, mas avisavam-me se assim fosse. Ou você sabe de alguma coisa?...

Não sei de nada...
Bem me parecia. Claro que há uma campanha negra. Eu aliás fui convidado para essa campanha pelo meu amigo do Ministério Público, para a função de pica-miolos.

Agora é que não estou a perceber nada...
Nem precisa que você é muito tenrinho. Digamos que há uma quantidade de gente como eu, que andam, digamos, por aí, e que sabemos muito bem como se governa um país porque já temos muitos anos a virar frangos neste atoleiro. E sabemos que não é como Sócrates está a governar...

E como é isso? Sócrates está a governar mal?
Não é tanto mal, o problema é ser arrogante e nós, especialmente eu, não gostamos de gente arrogante...

Mas...
Cale-se. E por isso andamos a meter o primeiro-ministro no seu devido lugar. Isto do Freeport ainda vai dar pano para mangas, mas já temos uma outra preparada.

Outro escândalo?
Uma vergonha!

E não nos quer adiantar pormenores?
Não sei... É melhor não... Bom, convenceu-me. Tome, está aqui o dossier. Não ligue a esse carimbo de Assunto de Estado – Altamente Confidencial, que isso é só para enganar. Leia, leia e pode publicar tudo.

Mas isto é um relatório chamado “Como Sócrates manipulou Bin Laden para que este atacasse as Torres Gémeas”... Isto é gravíssimo...
Não sei de nada. Você é que está a dizer e como você é jornalista eu acredito.

Mas isto não é a sério pois não?
Está a duvidar de mim? Fique a saber que quem assinou o decreto religioso a autorizar o ataque de 11 de Setembro foi Santos Silva, que como toda a gente sabe é mullah por parte do pai e taliban dos quatro costados do lado da mãe. Tão certo como eu estar aqui.

Bom, parece-me exagerado. Vamos a uma última questão. Acha bem ou acha mal que Sócrates não tenha ido à cimeira da UE?
Acho muito mal. Um ultrage que só demonstra como Sócrates não tem o mínimo respeito pelo país.

Mas se tivesse ido, isso não...
Era uma vergonha, por desrespeitar o partido e a democracia portuguesa para ir a uma cimeira internacional.

O melhor então teria sido encurtar o congresso?
Não, porque depois da reunião do directório da União que antecedeu a cimeira, um primeiro-ministro que se preze devia ter faltado à cimeira como protesto.

Mas ele faltou...
Não seja insolente. Mas quem é que você pensa que é, só por ser jornalista acha que pode ter opinião. Limite-se a fazer perguntas. Não aceito mais nenhuma entrevista destas. Quero a minha crónica de volta.

Bom, e é tudo daqui de Espinho. Boa noite.
Outra vez? Mas como é que você sabe que é de noite? Palerma... E porque é que ainda estamos aqui no meio de lado nenhum? Espinho disse você? Isto assim não vai lá, nunca!