12.8.06

Contra a torcidela do pepino


Dantes achava que os bebés eram, em qualquer encontro social, uma chatice e um desconforto. Ele é o barulho, os berros e as chiadeiras, ele são os brinquedos, as fraldas e os berços, para além do cuidado permanente de que necessitam... Enfim, o egoísmo supremo daquelas pequenas larvas que têm que ter tudo já e agora apesar de só saberem comer e cagar. Depois, não fazem sequer um mínimo esforço de conversa, e ainda por cima são inconvenientes o suficiente para interromper qualquer discussão com as suas pseudo-necessidades. Achava eu, que chegavam a ser insolentes. Mas mudei de ideias.
Os pobres coitados são de facto pequenos ditadores na sua forma mais pura, mas não é isso que me chateia. Aliás, os pequenos diabos não me chateiam de todo. É verdade que não dizem nada de jeito e comportam-se a maioria do tempo como cães tetraplégicos deitados numa alcofa de barriga para cima, mas isso, naquela idade, confesso, chega a ser engraçado.
O que eu não consigo mesmo aturar são os adultos! Os pais, os avós, os amigos da mãe e do pai, os familiares afastados e todos os adultos em geral que se relacionem com um bebé. Podia falar das longas discussões sobre antecipações dilatadas da eventual necessidade do bebé dali a dois dias e como isso poderá afectar não só a vida futura do cachopo como a vida sexual dos pais no imediato. Ou então da discussão filosófica destruidora de relacionamentos acerca da posição relativa do bebé no carrinho, considerando o vento, a posição do sol e as manias da avó. Mas o que não consigo aturar mesmo, são as vocalizações sonoras dos adultos para os pobres bebés, que tendo chegado há tão pouco tempo ao mundo, são obrigados desde logo a assistir à mais patética condição do ser humano. Tutupipi tutu! Coisinha linda! Gugu Dada! Quem é o filhinho da mamã? Ai! Tling ling! Ai que lindo! E por aí fora, que a lamechice humana é parte integrante da própria estupidez, e esta, como sabemos, não tem limites. Se ao menos eles não fizessem aqueles barulhos estranhos, aquele linguarejar infanto-demoníaco, aqueles sons lamecho-estridentes...
Os bebés, salvo raras excepções, até são engraçados e divertidos. Porquê estragá-los logo de início!?

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