3.5.17

Teste

Que é isto?

29.4.09

Estou aqui

Inaugura à séria, dia 4 de Maio.

1.4.09

A verdade do dia

Pena que isto não seja uma mentira de 1 de Abril.

17.3.09

Aqui me manifesto: sou contra ser-se a favor do contra só por favorecimento

Por Mauro Tristão, pessimista de serviço

A semana passada infelizmente não foi possível retomar estas crónicas. Depois de sair do congresso de Espinho fui desviado de má fé para Espanha e custou-me muito ter que voltar a este país. Chego no entanto a tempo de assistir à inutilidade da sua existência.
A manifestação da semana passada parece ter lançado Portugal no caminho da revolução. Não só me dói a alma como um joelho que nunca me foi bom e por vezes dou comigo de olhar vazio ao infinito a pensar como seria se tivesse ficado em Espanha. Mas tinha de me livrar do meu sequestrador e fugi.
Duzentas mil pessoas desfilaram por Lisboa, manifestando-se contra as políticas do governo. Lisboa parou. Eu saí de casa, cheguei ao fim da rua, vi aquele monstro a passar qual dragão chinês sem fim e voltei para casa. Do outro lado da rua ficou o meu amigo Sebastião à minha espera. Nem o avisei. A culpa do meu desvio a semana passada, também foi dele. Depois, no outro dia, disse-lhe que não podia ir ao encontro combinado. Não sei se ainda me fala.
Ficou tudo doido. Disseram logo que foi a maior manifestação de sempre. Até os directores dos jornais escreveram editoriais sobre o ajuntamento. A esquerda congratulou-se, depois disse que não tinha nada a ver com o assunto, que eram o trabalhadores, e depois afirmou que foi uma vitória sua. A direita, que foi mais uma manobra da esquerda, depois juntou-se ao cortejo em protesto contra o governo e clamou vitória porque havia uma pessoa verdadeiramente de direita na manifestação: o senhor Acácio que tem quase cem anos e que eu conheço bem e que, como já tem dificuldade em mover-se, foi arrastado pela Fontes Pereira de Melo abaixo. Só o largaram no Rossio e ele aproveitou para ficar a ver.
O primeiro-ministro primeiro disse que era uma manipulação do PCP sobre a CGTP e depois foi dizer à UGT para não se deixar manipular por partidos. Sobretudo pelo dele que apoia a tendência socialista da UGT que se reuniu para o ouvir falar. Depois disse que amanhã já ninguém se lembra e é verdade.
Esta manifestação foi uma pálida ideia do que é uma manifestação socialmente relevante. Por várias razões. Primeiro porque não faltou gasolina nos postos. Segundo porque não faltou comida nos super-mercados. E finalmente, porque ninguém sabe se lá estiveram duzentos mil. Dantes, os organizadores davam um número, a polícia outro e nós fazíamos a média. Normalmente oscilava entre um máximo de cem mil pessoas e um mínimo de três e a senhora Adelina. Que pela gritaria que faz tem de ser contada à parte, porque com um megafone nos beiços peludos enche o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré. Desde que a polícia passou a concordar com os números da organização para não dizerem que eles não sabem fazer contas – que não sabem –, as manifestações da CGTP passaram todas a ter duzentas mil pessoas, as dos professores mais de cem mil e as dos apanhadores de hortaliça das searas de Almeirim, cerca de trinta mil ou um pouco mais.
Uma manifestação da CGTP com 200 mil, é normal. É mais ou menos a quantidade de pessoas que eles conseguem juntar com meia dúzia de telefonemas e um e-mail com um vídeo engraçado em anexo, sem ter de trabalhar aos fins-de-semana, porque como são sindicalistas que trabalham para um sindicato, não podem trabalhar quando lhes apetece. Há regras. Que são muito bonitas. Mas ainda em Outubro de 2007 houve uma manifestação com 200 mil à porta da presidência portuguesa da EU em plena Expo. Na altura, a CGTP disse que era a maior dos últimos 20 anos e que a partir de então nada seria igual. Mas os jornais e os editorialistas andavam ocupados com o parto do nado-morto Tratado de Lisboa. E ninguém deu por isso. Eheheh! Já nem se lembram.
Desta vez a CGTP fez a manifestação no centro de Lisboa. O trânsito parou e toda a gente deu por ela.
Mas que é isto? Isto é uma brincadeira de crianças. Duzentas mil? Eu gostava era de ver esses senhores a trabalhar a sério e a juntar gente à séria. São precisos 10 gregos para fazer uma manifestação com cocktails de Molotov. Cem franceses de origem africana para pegar fogo a carros e cerca de mil ingleses para haver empurrões à séria desde que um seja de origem irlandesa. Alemães, basta um para f0*3* tudo. Mas é preciso pelo menos um milhão de portugueses para não se avisar pelo menos dez vezes que vai haver m3*da, antes de se começar a bater na polícia. Isto não é nada. Isto é um escândalo para este governo que nem sequer consegue mobilizar gente suficiente para se manifestar contra ele. E é por estas e por outras que a democracia está como está. Quando já nem as pessoas se manifestam, meus senhores, estamos perante o colapso.
Não sei se este país aguenta até ao fim do ano. Tenho cada vez mais dúvidas. E por falar nisso, também tenho cada vez mais dívidas.

PS: Para que fique claro: estou profundamente contra o título desta crónica, que não é de minha autoria.

4.3.09

Congresso espinhoso

Jornalista: Bem vindos. Estamos ainda em Espinho para o comentário de Mauro Tristão ao Congresso do Partido Socialista que terminou no passado domingo. Pergunto-lhe, Mauro, como viu este congresso?
Mauro Tristão:
Antes de mais gostava de lamentar o seu regresso.

Obrigado, mas não mereço tanto sentimento da sua parte...
Nisso tem razão. Olhe quanto ao congresso pareceu-me fraquinho.

Porquê? Por causa da ausência de discussão ou por causa da irrelevância, por Sócrates já ter sido eleito?... Porquê, Mauro?
Este congresso decorreu na Nave Desportiva de Espinho. Como nave, nunca levantou voo, como desportiva nunca mexeu muito e de Espinho não vi sequer um robalo.

Mas há robalo em Espinho?
Não faço ideia, mas digo-lhe que em Espinho costuma haver um evento bem mais entusiasmante...

E qual é?
O Encontro de Homens-Estátua.

Estou a ver...
Era até preferível que tivessem feito o congresso no Casino Solverde. Podia ser que Sócrates ganhasse algum para ajudar à crise que por aí vai.

Quanto ao congresso propriamente dito, o que lhe pareceu a ausência de Alegre?
A sério? Ele não veio? Agora que fala nisso, não ouvi ninguém a declamar a Trova do vento que passa...

Alegre, de facto não veio ao congresso. Não acha isso politicamente relevante?
Achava se Alegre fosse politicamente relevante, mas não é.

Acha portanto que ele não tem a importância que se lhe dá?
Antes pelo contrário. Alegre é o líder da oposição. E este seria o local por excelência para desafiar as políticas do primeiro-ministro. Por isso acho que fez bem em não vir.

Mas isso parece-me um pouco contraditório...
Mas você não tem nada que achar, porque você não percebe nada de política. Se percebesse não era eu que estava a ser entrevistado. É preciso perceber, que Alegre não pode fazer e não deve fazer nada. Ele é o Humpty Dumpty da política portuguesa empoleirado no muro da extrema esquerda. Se ele cair, para que lado for, nem todos os cavalos do rei nem todos os homens do rei, conseguirão juntar os pedaços que dali saírem.

???
Deixe lá. Passe à frente.

E quanto a Vital Moreira, parece-lhe um bom candidato?
Não. Parece-me uma péssima escolha. Vital Moreira é neste momento o maior apoiante e defensor do primeiro-ministro. Bate até o autor deste blogue, por incrível que isso lhe possa parecer a si e a mim. A mim mais, que você é um ingénuo. Mas dizia eu que normalmente, os candidatos às europeias são pessoas que os dirigentes políticos querem ver pelas costas. Com Vital em Bruxelas quem é que vai defender Sócrates? O autor? Ele nem se consegue defender a ele próprio! Foi um tiro no pé.

Acha então que Sócrates devia ter convidado, por exemplo, Alegre?
Você aprende depressa, mas desta vez está enganado: convidado, não, ordenado!

Por falar em ordenar, Sócrates diz que quem mais ordena é o povo e não um director de um jornal ou uma televisão. Referia-se à campanha negra. Acha mesmo que há uma campanha negra?
Claro que há. A não ser que a tenham cancelado, mas avisavam-me se assim fosse. Ou você sabe de alguma coisa?...

Não sei de nada...
Bem me parecia. Claro que há uma campanha negra. Eu aliás fui convidado para essa campanha pelo meu amigo do Ministério Público, para a função de pica-miolos.

Agora é que não estou a perceber nada...
Nem precisa que você é muito tenrinho. Digamos que há uma quantidade de gente como eu, que andam, digamos, por aí, e que sabemos muito bem como se governa um país porque já temos muitos anos a virar frangos neste atoleiro. E sabemos que não é como Sócrates está a governar...

E como é isso? Sócrates está a governar mal?
Não é tanto mal, o problema é ser arrogante e nós, especialmente eu, não gostamos de gente arrogante...

Mas...
Cale-se. E por isso andamos a meter o primeiro-ministro no seu devido lugar. Isto do Freeport ainda vai dar pano para mangas, mas já temos uma outra preparada.

Outro escândalo?
Uma vergonha!

E não nos quer adiantar pormenores?
Não sei... É melhor não... Bom, convenceu-me. Tome, está aqui o dossier. Não ligue a esse carimbo de Assunto de Estado – Altamente Confidencial, que isso é só para enganar. Leia, leia e pode publicar tudo.

Mas isto é um relatório chamado “Como Sócrates manipulou Bin Laden para que este atacasse as Torres Gémeas”... Isto é gravíssimo...
Não sei de nada. Você é que está a dizer e como você é jornalista eu acredito.

Mas isto não é a sério pois não?
Está a duvidar de mim? Fique a saber que quem assinou o decreto religioso a autorizar o ataque de 11 de Setembro foi Santos Silva, que como toda a gente sabe é mullah por parte do pai e taliban dos quatro costados do lado da mãe. Tão certo como eu estar aqui.

Bom, parece-me exagerado. Vamos a uma última questão. Acha bem ou acha mal que Sócrates não tenha ido à cimeira da UE?
Acho muito mal. Um ultrage que só demonstra como Sócrates não tem o mínimo respeito pelo país.

Mas se tivesse ido, isso não...
Era uma vergonha, por desrespeitar o partido e a democracia portuguesa para ir a uma cimeira internacional.

O melhor então teria sido encurtar o congresso?
Não, porque depois da reunião do directório da União que antecedeu a cimeira, um primeiro-ministro que se preze devia ter faltado à cimeira como protesto.

Mas ele faltou...
Não seja insolente. Mas quem é que você pensa que é, só por ser jornalista acha que pode ter opinião. Limite-se a fazer perguntas. Não aceito mais nenhuma entrevista destas. Quero a minha crónica de volta.

Bom, e é tudo daqui de Espinho. Boa noite.
Outra vez? Mas como é que você sabe que é de noite? Palerma... E porque é que ainda estamos aqui no meio de lado nenhum? Espinho disse você? Isto assim não vai lá, nunca!

25.2.09

A corrupção sempre foi o cimento desta nação!

Por Mauro Tristão, pessimista de serviço

A boa notícia desta semana foi a “charutada” que Domingos Névoa levou por andar andar metido numas “ratices”, ou seja, “corrupção activa para acto lícito”. O empresário da Bragaparques tentou “comprar” há três anos o vereador José Sá Fernandes no caso da permuta dos terrenos do Parque Mayer pelos da Feira Popular. Agora o tribunal veio censurá-lo, aplicando-lhe uma multa de cinco mil euros. Confesso que nem sei por onde começar. Se pela “compra”, se pelo Parque Mayer, se pela Feira Popular, se pelos cinco mil euros ou se pelo Névoa. A verdade é que este caso se tornou claro como o dia: Portugal não é bem um país, é antes uma reunião de condóminos num prédio de gente pobre.
Comecemos por Domingos Névoa, um empresário, antes, respeitado, daqueles de que este país é feito e que fizeram este país contra ventos, marés e PDM’s. Ele merece esta condenação, este enxovalho público e esta pena. Domingos Névoa cometeu um erro fatal que muitos portugueses cometem. Foi-se meter com um advogado. Só pudemos confiar num advogado quando lhe estamos a pagar! (E mesmo assim...) E ele foi lá, para pagar ao irmão do advogado. Ora toda a gente sabe que os advogados não têm família! Logo, deu-se mal. Bem feita.
Quanto à condenação, parece-me óbvio que desistir de um processo judicial não é um acto ilícito. Para os magistrados, aliás, retirar mais um processo lento à justiça é até um acto de compaixão. Os senhores juízes tem mais que fazer que andar a tratar de assuntos tão pouco dignificantes como permutas, parques mayers e feiras populares. Coisas pouco de acordo com a importância magistral de senhores que ainda por cima, agora se encontram “citiados”.
Quem devia estar preso era o José Sá Fernandes. Então os políticos queixam-se de ganhar mal e de que no privado ganhariam muito mais e quando lhes é oferecida a possibilidade de continuar a trabalhar a coisa pública, ganhando dignamente, indignam-se como virgens ofendidas? É triste que ainda exista este tipo de políticos que são abandonados por todos, que comem a mão que os alimenta e que só querem poder, poder... O Zé, sem BE, sem Bragaparques, sem amigos, só pensa em ruas de contentores de carga pronta e lá metida sabe-se lá para que cargueiro espacial.
Ainda assim acho que acabou tudo pelo melhor e cinco mil euros parece-me um preço razoável, sobretudo em tempos de crise da construção civil. A verba que eu acho elevada é a de duzentos mil para “comprar” o Zé. Domingos Névoa revelou-se assim, um péssimo empresário. Queria comprar um político por 200 mil euros, quando afinal, segundo a magistratura, ele apenas vale cinco mil.

18.2.09

Sócrates é o pior ditador desde que há registos históricos

Por Mauro Tristão, pessimista de serviço

A boa notícia desta semana é a reeleição de José Sócrates para secretário-geral do PS por 96,43% dos votos. Ficou assim à vista, o que antes eram apenas suposições: Sócrates é um ditador. Um péssimo ditador. Tal como Salazar (curioso o facto de ambos os nomes começarem pela mesma letra?!...), Sócrates vai levar o nosso país à desgraça e à miséria. E já estamos a meio caminho, ou seja, no Canal Caveira, ensopados ainda no borrego, como quem vai para o Algarve para lhe desaparecer um filho.
O primeiro-ministro diz que a actual situação económica que o país vive se deve a uma crise internacional de proporções bíblicas. A mim ele não me engana. Para mim é claro que a crise se deve a ele e às suas políticas, tal como confirmam todos os partidos à esquerda e à direita do PS. Diria mais, há dedo de Sócrates nesta crise mundial. Não sei bem como, mas ainda o hei-de apanhar. Nem que eu tenha que aceitar que afinal ele sempre sabe inglês técnico o suficiente para ter provocado uma crise tão americana.
Após quase quatro anos de governação socrartista (ele é um artista a governar), o país está de rastos. Às vezes, tenho mesmo uma pontinha de saudade de Santana Lopes, que não teria arte para estragar assim tanto o país. Tem boas ideias, mas nunca foi muito competente...
É vergonhosa a situação a que este país chegou, em que um líder vence eleições internas com uma percentagem semelhante às de Saddam Hussein que mandava matar os opositores. Não se compreende, como é que um partido esteja silenciado, com medo, diria mesmo, borrado de medo. Sim, os militantes socialistas estão borrados de medo de Sócrates, tremelicando em cantos escuros no Largo do Rato. Sabem bem que se falarem para dizer o que for, logo o cão de fila dos assuntos parlamentares lhes cairá em cima, a malhar neles. Sócrates pode não ser gay como diziam, mas pela sua mão, o PS deixou de ser um partido de luta e passou a um partido de pipis mariquinhas.
Mas não é de admirar. Diz o povo e muito bem (que o que o povo diz é sempre bem dito quando me agrada) “diz-me com quem andas...”. Embora não me lembre do resto do ditote (“para bom entendedor...”), a verdade é que Sócrates só se dá com gente que sabemos serem ditadores: Hugo Chávez, José Eduardo do Santos, Muammar al-Khadafi, Vladimir Putin e uma prima minha que é o diabo.
Como ditador, Sócrates é ainda pior que como primeiro-ministro. É de uma incompetência extrema. Repare-se como nem sequer consegue controlar a sua bancada parlamentar, onde um velho poeta velho faz o quer e bem lhe apetece. Se Sócrates fosse um ditador à séria, que não é, Manuel Alegre, por tudo o que já fez e já disse nestes quatro anos, já estaria exilado num qualquer sítio onde fosse preciso perguntar ao vento que passa por notícias deste país. Uma vergonha.
Isto não é uma nação, é uma encenação. Isto não é um país, é um dislate. Isto não é democracia. É ditadura e da pior. Uma ditadura incompetente na sua própria dura ditação. Como é possível eu ainda poder escrever o que escrevo e dizer o que digo? Como é possível eu poder dizer que Sócrates é um mentiroso, um aldrabão, um vendido, uma besta e um transsexual diabético. Numa ditadura à séria isto era impossível.
Não vejo luz nenhuma ao fundo do túnel. O último a sair deve seguramente tê-la apagado.

11.2.09

Taxa de natalidade vai aumentar em Portugal a olhos vistos

Por Mauro Tristão, pessimista de serviço

É com tristeza que acabo de confirmar junto do autor do blogue, que esta crónica tem obrigatoriamente de se centrar numa boa notícia. A única coisa que me consola é o facto de nestes tempos que correm, as boas notícias serem tão raras como os casos que envolvem o primeiro-ministro em aldrabices de todo o tamanho. Ou seja, há algumas mas pouco consistentes. Por isto mesmo, esta semana, decidi eu dar a notícia.
A taxa de natalidade em Portugal vai aumentar. Estou certo que todos considerarão que isto é uma boa notícia. Eu não. Mas isso é outra história que o autor do blogue nunca explicou verdadeiramente.
A verdade é que uma larga percentagem dos portugueses vai ter mais tempo para dedicar a si próprio. Com os despedimentos em massa a que temos assistido, estou certo, que vai aumentar o número de masturbações e de fornicações. Sobretudo nos casos em que marido e mulher, ambos perderam o emprego. Como se sabe, gente pobre sem nada para fazer costuma reproduzir-se aos magotes. Finalmente, a população portuguesa vai competir de igual para igual com os povos dos férteis países do terceiro mundo. O que já se vê, é a própria da desgraça.
O país é pequeno e pobre e já está, hoje em dia, superlotado. O dinheiro é pouco para tanta gente e casa onde não há pão, todos ralham e o Sócrates é que tem razão. E, se alguém discorda, malha-se neles, disse o cão de fila do governo e eu acredito porque o homem dá-me medo.
Pior do que existirem dez milhões de portugueses, é existirem mais ainda. E não é só aqui em Portugal que é mau existirem muitos portugueses. Em Inglaterra, por exemplo, eles também acham que por poucos que sejam, os portugueses (e pelos vistos também os italianos) são sempre a mais. British jobs, for british workers, disse o primeiro-ministro inglês. Os nossos costumam dizer o mesmo: portuguese jobs, for portuguese boys.
Os nossos empresários, com a erudição que lhes é reconhecida, decidiram desde o primeiro momento, aderir a este movimento internacional de dar descanso aos portugueses. Com o objectivo de ajudar a sociedade neste momento de crise, puseram-se a despedir as pessoas, para que o governo possa mostrar que está a fazer alguma coisa pela crise, atribuindo-lhes o subsídio de desemprego. Passarão agora a ter que se apresentar quinzenalmente no centro de emprego e a procurar activamente trabalho. O que fará muitos operários sem habilitações, despedidos de fábricas que deixaram o concelho no desemprego, a viajar por este país fora ou – o ideal – a emigrarem de vez.
Numa altura em que o pão é cada vez menor, a confusão maior e o perigo de nos reproduzirmos rapidamente muito forte, chegou a altura de falar claro: meu caro concidadão, não pergunte o que o seu país pode fazer por si, faça você alguma coisa por ele, por favor, emigre!

3.2.09

O fim da crise e toda a verdade sobre o estranho caso do Freeport

Por Mauro Tristão, pessimista de serviço

A boa notícia desta semana foi o fim da crise. Já não era sem tempo. Infelizmente, o fim da crise ficou a dever-se aos novos capítulos de uma novela passada em Alcochete e que mete a família real britânica. Trata-se de mais uma grande produção de ficção nacional que tem entretido os portugueses e os tem agarrado às notícias como cães a um osso velho. Mas, pelo menos, nunca mais se ouviu falar da crise que nos assolava.
O enredo desta novela remonta ao início da década, quando um personagem maligno de nome Zeferino Boal engendrou uma carta anónima com o inspector Elias Torrão da Judiciária, e com o inspector Tiger da Scotland Yard, expondo o estranho caso do Freeport. Aqui começa a trama e a vulgaridade do guião. Na verdade os nossos guionistas são muito maus e apontam sempre para o cliché em vez de tentarem ser criativos. Ora, chamar ao vilão Zeferino Boal, é um chavão de todo o tamanho. Pior só se lhe chamassem Cipriano Bocagrande. Já o inspector Tiger é uma agradável referência a um sketch dos Monty Python, pelo que se saúda.
A novela não passa de um pastelão sensaborão que faz do Equador uma obra-prima. O personagem principal é um homem que desenhava casas horríveis até ter comprado um curso de engenharia e se ter tornado homossexual, para ter algum sucesso num partido político que passava o seu tempo numa casa em Elvas com meninos da Casa Pia. Outro chavão é utilizado para o nome do protagonista: Sócrates. Torna-se óbvio que o personagem no final virá a morrer envenenado por não querer renunciar à verdade: o Magalhães é um embuste. Fica a saber-se que parte da culpa é da mãe de Sócrates que começa por ir viver para o mesmo prédio do filho e da sua mulher (era casado antes de se dedicar ao Freeport), provocando o divórcio dos dois. A mãe compra o apartamento a uma empresa off-shore que perde dinheiro na venda e mais tarde vai vingar-se subornando-lhe o filho que entretanto chega a Ministro do Ambiente. É aqui que entra o tio, um homem com um princípio de Parkinson e um final de Alzheimer que envia o filho para a China, para um centro de artes marciais. A missão do filho do tio é preparar-se para o grande duelo final com Zeferino Boal.
A “british connection”, um tal de Smith, juntamente com um português com o nome de Pedro (mais uma vez, uma referência desnecessária, aqui ao apóstolo que renegou Cristo três vezes) são a ligação entre Sócrates, o tio, o primo, o dono do Freeport, a família real inglesa e Mohamed Al-Fayed. E porquê Al-Fayed? Por causa do seu filho Dodi que a família real mandou “sumir” juntamente com Diana. A verdade é que com a aprovação das alterações à ZPE, Sócrates, não só aprovou o Freeport, como alterou o fluxo normal de migração dos Maçaricos de Asa-Longa para Inglaterra, impedindo assim, a descoberta de que foi a família real que pagou ao poste para se atirar para a frente do carro de Dodi e Diana. Conseguindo ainda a nomeação da coroa inglesa para primeiro-ministro de Portugal.
O enredo parece intricado mas não é. Na verdade, posso até desvendar o final para desilusão de toda a gente que ainda me esteja a ler: a culpa é do casal McCann. Temo que a partir daqui o nosso país entre em entropia seguida de dissolução das instituições. Parece-me até improvável que se consigam fazer eleições este ano, entre os tumultos anunciados, os motins inevitáveis e o burburinho no café aqui em baixo que me deixa louco. Estou deserto para que comecem os motins para eu acabar com isto.

30.1.09

Será mentira?

Há uma conspiração no ar...
Parece-me uma grande coisa...
Para breve!

27.1.09

Só comparável a Jesus Cristo

Boas notícias por Mauro Tristão, pessimista de serviço

A boa notícia da semana é a tomada de posse do novo presidente americano, Barack Obama... Ahahaha! Perdoem-me mas não consigo esconder o riso. Ahahah! Hu! Ok. Estou controlado. Vamos lá.
Vi tudo com atenção e confesso que por momentos cheguei quase a sentir uma certa, como hei-de dizer, não é bem comoção, foi mais um aperto no peito. Mas suponho que pode ter sido um ataque cardíaco porque passou-me rapidamente e voltei a tomar atenção à tomada de posse. Foi uma cerimónia que estranhamente decorreu sobre um frio árctico e eu acho que isto simbolicamente pode querer dizer alguma coisa. Da mesma maneira que o estranho engano durante o juramento também me parece querer dizer alguma coisa. E não menos estranho, o vestido de Michelle Obama, decididamente, só pode querer dizer alguma coisa. Mas neste caso, não faço ideia do que seja. Porém, nem tudo correu assim tão bem. Dois velhotes, um deles Ted Kennedy, quase iam quinando, manchando assim a festa. E com isto está tudo dito. Foi um dia aziago, uma cerimónia agoirada, um almoço que cheirava a morte e um vestido aterrador. No final, sempre que via alguém a falar de esperança, dava-me vontade de rir. Sei que não me fica bem, mas não consigo evitar.
Mas vamos ao que interessa. Barack Obama é presidente há uma semana, parece-me justo fazer um balanço desta semana de presidência. E o balanço confirma o que eu previa. A América está enterrada numa crise financeira sem precedentes, numa crise económica avassaladora, em recessão e com mais desempregados que um café com SporTV em dia de jogo. O défice disparou, a divida pública é um recorde absoluto e as medidas de Obama não tiveram efeito nenhum, nem na crise, nem na estupidez de um primo meu que mora nos States. A América está ainda afundada em duas guerras sem fim à vista, com um problema energético estrutural e com milhares de problemas um pouco por toda América e por todo o mundo que Barack nada fez para resolver. A vergonhosa prisão de Guantanamo continua aberta, o que significa que ainda lá estão pessoas fechadas.
É um balanço extremamente negativo. Não há memória de a América alguma vez ter estado tão mal quanto está neste momento sob a liderança de Obama. O mesmo que vinha salvar o mundo e nem sequer conseguiu cumprir a mais simples de todas as promessas de campanha: comprar um cão às filhas. É triste. É muito triste. Mas não me surpreendem estas pessoas supostamente “optimistas” e “inspiradoras”, que não passam de vendedores da banha da cobra. Barack, que seria o paladino da mudança, após sete dias, os mesmos que Deus precisou para fazer o mundo todo, nem sequer conseguiu acabar com o racismo na América. Um bluff. O maior bluff da história desde Jesus Cristo que vinha para salvar os homens e vejam no que deu. Se ao fim de uma semana é assim, imaginem ao fim de um mandato. Esqueçamos a América. Foi chão que já deu uvas. Esperemos apenas que não nos venham pedir uma esmola que nós também temos os nossos problemas.

21.1.09

Do cu

19.1.09

Cessar-fogo ou acabou-se a lenha vou buscar mais

Por Mauro Tristão, pessimista de serviço

A boa notícia da semana é o cessar-fogo israelita na Faixa de Gaza... Peço desculpa, estou a ouvir agora que já foi quebrado... Confirma-se o cessar-fogo também do Hamas e o início da retirada das tropas israelitas. Parece-me que agora é certo e posso anunciar, houve mesmo um cessar-fogo na Palestina, ou seja, alguém ficou sem munições.
Uma das razões porque foi bem pensada a criação do Estado de Israel onde ele existe, é porque assim, só se estraga uma casa como se costuma dizer no nosso país. Eu detesto tanto os israelitas como os palestinianos e não conheço povos mais quezilentos, à excepção de uma tribo brasileira que mata estrangeiros com pauladas na cabeça e uma tribo do norte de África que vive num arquipélago ao largo de Marrocos, a que deram o nome de Madeira.
Entendo este cessar fogo como um intervalo naquele passatempo já com algumas décadas, mas com origens milenares, de judeus e muçulmanos andarem às turras seja com quem for. Mas desde que os meteram juntos, o Mundo nunca mais foi o mesmo. Para os judeus foi bom, porque nunca mais foram expulsos de lado nenhum, para os muçulmanos foi uma benção porque passaram a ter o infiel à porta de casa, pelo que não precisam de ir para longe para mandar umas pedras ou uns rockets.
Um dia que alguém, como por exemplo um presidente americano, enfie um dedo no cu do primeiro-ministro ou da primeira-ministra israelita e lhes diga para se portarem como gente civilizada, talvez nesse dia, com um batalhão de soldados nas ruas para controlar os não menos bárbaros palestinianos, se consiga uma paz definitiva. Talvez então surja um estado palestiniano e os judeus se sintam em segurança. Mas se isso acontecer, o que irá aquela gente fazer para obter os mesmos níveis de adrenalina que obtêm a viver em constante arruaça? Vão-se dedicar a quê? Desportos radicais? Não sei. Mas temo que no dia em que o médio-oriente deixe de ter problemas, o resto do mundo entre no caos absoluto com zangas e zaragatas, gente a atirar pedras e rockets, guerras e destruições. Já imagino o secretário-geral da ONU chateado a dizer que tem que haver um cessar-fogo e a levar com um rocket em cima, como quase aconteceu em Israel há dias para ele não ser parvo. Seria, finalmente, o apocalipse. Mas por muito que eu gostasse que o fim do mundo ainda fosse no meu tempo, gostava de viver mais uns anos e por isso espero que o conflito na Palestina se mantenha por muitos bons anos e que continuemos a assistir impávidos e serenos enquanto morrem eles, porque é sinal que não morremos nós.

13.1.09

Numa fria

por Mauro Tristão

Fui ameaçado pelo dono deste blogue de não puder escrever estas crónicas caso insista em abordar más notícias. Parece que a ideia original era que eu comentasse apenas boas notícias e se o não fizer terei que ir escrever para de baixo de uma ponte. Como não quero ser um sem-abrigo da escrita, com uma revolta profunda no meu coração e porque antes assim que pior, acedi. Cá vai.
A boa notícia é que tem estado fresquinho. Sobretudo na economia, mas não só. Chamam-lhe vaga de frio, mas parece-me um exagero. Diria que arrefeceu um bocadinho, mas estou convencido que as temperaturas ainda deviam descer muito mais. Talvez então o nosso país se tornasse num país civilizado. Não é à toa que os países nórdicos são os mais civilizados, os mais ricos e os que funcionam melhor. O que este país precisava mesmo, era de dois ou três anos de Inverno rigoroso o ano todo, para ver se se endireitava. Nada como temperaturas negativas e uns nevões de cortar estradas para lembrar a esta canalha que habita o jardim à beira mar plantado, que tem que trabalhar à séria e deixar-se de queixas com o único intuito de não fazer nada. Então, talvez pudessem sobreviver ao Inverno. Sem garantias, claro, que até os do centro da Europa sabem que ainda assim, se a Rússia corta o gás, voltam todos a viver como os homens das cavernas. Talvez nessa altura os nativos ganhassem alguma compostura. Desde logo começavam todos a andar melhor vestidos. Perdiam essa mania de andar com dois ou três trapos no corpo, de chinelo no pé e de peles à mostra como caniches depois da tosquia. Acabava-se ainda com essa mania infeliz de ir para a praia apanhar sol que só provoca cancros na pele e derrete as moleirinhas. Cabeças frias pensam melhor que cabeças quentes, toda a gente o sabe e então talvez pudéssemos vir a ter um país com deve ser, ou seja com pessoas a pensar. Infelizmente não tenho nenhuma esperança que isso aconteça. Este frio é apenas passageiro e até o governo, assim como anda a salvar empresas numa fria, se pudesse, acabava com ele.

6.1.09

Mauro Tristão: Finalmente, a crónica

É com prazer que posso anunciar ter-me visto livre daquelas entrevistas absurdas, conduzidas por um ser difícil de adjectivar que se auto-intitulava Jornalista e, pela idiotice que demonstrava, acredito mesmo que o fosse. A partir de agora, embora ele possa voltar a todo o momento (não tenho a certeza de ter apertado bem as cordas), continuarei a minha infeliz participação neste blogue através desta crónica. Embora seja para mim muito penoso ter que escrever tudo isto no computador e posteriormente publicar no blogue, encontrei uma forma de não o fazer ao obrigar a Nikita, a minha empregada ucraniana, a fazer tudo isso por mim. Uma tarefa árdua na medida em que ela não fala uma palavra de português e eu tenho que lhe apontar as teclas todas, uma a uma. Enfim, modernices, que no meu tempo não existiam. Refiro-me às empregadas ucranianas, que dantes eram todas do norte do país e apesar do buço pelo menos sempre percebiam o português embora também não o falassem nem o escrevessem.

2009, odisseia na crise
A verdade é que ninguém previu a crise de 2008. Ninguém excepto eu, que andei a avisar toda a gente sobre esta crise, pelo menos desde 1954. Mas ninguém me quis ouvir e claro, ninguém fez nada. Agora não há cão nem gato que não preveja o pior para 2009. O Presidente da República diz que vai ser “muito difícil”, o primeiro-ministro diz que vai ser o “cabo das tormentas” e um primo meu diz que vai ser a costela partida de quem escorrega numa casca de banana e cai de costas em cima de um monte de caca de cão com diarreia. Talvez. Tenho dúvidas.
A verdade é que ninguém previu a crise de 2008, como é que eu posso acreditar que 2009 vá ser mau? Eu gostava de acreditar nisso, gostava de pensar que este ano que agora começa vai ser um dia frio carregado de nuvens negras com cheiro de morte e devastação. Mas começo a ter dúvidas. Esta gente nunca acerta em nada e isso é meio caminho andado para eu ter tantas dúvidas como o país tem dívidas. Um ano com três eleições?! Temo que só vá ser mau para mim.
O governo vai dar tudo a toda a gente: à empresa, à família, aos pais, aos filhos, à avozinha doente, ao cão, ao gato e ao cágado do menino. A oposição vai prometer os mundos e os fundos que o governo não pode dar mas eles hão-de dar assim que se apearem. As campanhas vão alegrar as ruas, os comícios as praças e os políticos as portas dos incautos. Comigo se cá vierem bater à porta levam logo com o bacio.
Concluindo, 2009 vai ser um ano de festa e alegria com recessão, sem recessão, com emprego ou subsidio de desemprego, com feriados e pontes e dias de voto que são óptimos para uns fins-de-semana de praia ou de montanha. E isto é que me dói. E o que me alivia é saber que em 2010 vamos pagar por tudo isto.
Por isso, não me venham dizer que 2009 vai ser um ano mau. A mim não me enganam. Vai ser mau é para mim que tenho aturar esta porcaria toda.

Mauro Tristão

31.12.08

Um ano a balançar

Jornalista: Bem vindos ao já habitual comentário de Mauro Tristão, o nosso pessimista de serviço. Hoje à distância, já que Mauro Tristão ausentou-se do país devido às festas, mas vamos tentar entrar em contacto com ele. Mauro, está a ouvir-me?
Mauro Tristão: Cof! Cof!...

J: Mauro Tristão?

MT: Cof! Arghh! Arrerre! Cof! Cof! Aarrgh! Argh! Cof…

J: Bom parece que há alguma interferência na comunicação…
MT: Diga, homem, cof, diga, isto é só uma tosse. Arrghrgsh… Shht…

J: Desculpe mas pelo barulho parecia mesmo alguém a morrer.
MT:
Sou eu que estou a morrer.

J: Mas está doente?
MT:
Muito doente, muito doente.

J: Isso é que é pior…
MT:
Já estava doente e agora fiquei pior. Recebi os exames…

J: E passou de ano ou está mesmo doente?
MT:
Engraçadinho… Tenho estado doente. Muito doente. Mas agora chegaram os exames médicos e afinal diz que não é nada… Estas bestas nem conseguem encontrar o meu problema, enfim… médicos…

J: Não fique assim abatido, da forma como o costumo ver fumar, estou certo que não durará muito.
MT:
Acha?

J: Acho.
MT:
Mas acha o quê? Meta-se na sua vida. Eu não lhe confiava nem a minha vida, quanto mais a morte. Cof, cof! Não tem mais nada para me perguntar? Se não tem, acaba-se com isto que eu tenho mais que fazer.

J: Não precisa irritar-se. Imagino que, apesar de estar doente, aí em Porto Alegre terá muito que fazer…
MT:
Qual Porto Alegre, estou em casa, em Lisboa. Fiquei doente e não fui a lado nenhum. Passei o Natal na cama com febre e só me levantei para vir falar consigo por esta coisa…

J: Coisa? Pelo computador?
MT:
Sim. Despache-se homem, despache-se que estar em frente destas máquinas dá-me comichões nas partes pudibundas.

J: Ok. Ok. Vamos já passar ao que interessa, às boas notícias. Não sei se antes de mais, quer fazer um comentário à mensagem de Natal do primeiro-ministro ou…
MT:
Isso são coisas sem interesse nenhum. Ainda se o país se estivesse a afundar numa crise… Isso sim, seria uma boa notícia para mim.

J: Mas o país está a afundar-se numa crise, Mauro…
MT:
Mas não é assim tão grave… Não é que o mundo esteja numa crise devastadora…

J: Desculpe mas o mundo atravessa a pior crise desde 1930!
MT:
Ah! Você diz isso só para me animar…

J: Estou a falar a sério.
MT:
Seja como for, já me animou.

J: Na verdade, hoje em dia parece só nos restar a esperança de um futuro melhor…
MT:
Essa é boa. A Esperança…

J: A Esperança é a última a morrer…
MT:
E não acha isso estranho?

J: O quê?
MT:
Que morra toda a gente e só fique a Esperança?

J: Estranho? Não. É uma expressão que se usa…
MT:
Sabe porque é que a Esperança é a última a morrer? Sabe?

J: Bom, porque é um…
MT:
A Esperança é que é a assassina. Ela mata toda a gente primeiro. Sabe o que eu costumo dizer? Quando já só resta a Esperança o melhor mesmo, é uma pessoa pôr-se a caminho da outra margem, parar o carrinho a meio da ponte sobre o Tejo, fechar o carrinho, dizer adeus e saltar lá de cima. A Esperança… A única Esperança que conheci na vida, vim a descobrir que era um travesti e nunca mais acreditei em nenhuma.

J: Estou a ver… Como este é o último comentário do ano, não sei se quer fazer um balanço do ano?...
MT:
Confesso que não foi um mau ano.

J: Diz isso por causa de derrocada do sistema financeiro, da crise mundial, do sismo da China…
MT:
Digo sobretudo porque finalmente este ano acabaram as obras no meu prédio e finalmente posso dormir a sesta em paz e não ter o desprazer de encontrar aqueles homens horríveis nas escadas…

J: Está a falar dos pedreiros?
MT:
Dos trolhas, aquilo são trolhas. Há pedreiros muito decentes. Mas isto são trolhas que se embebedam antes das onze da manhã e blasfemam o resto da tarde.

J: Mas em termos nacionais não encontra nenhuma boa notícia que nos dê alguma esperan… quer dizer, alento?
MT:
A nível nacional? Não.

J: Imagino que o facto de 2009 poder ser um ano muito pior que este ano de 2008, já o anime.
MT:
Tenho dúvidas. Isso foi o que o primeiro-ministro disse, mas o homem está farto de prometer e não cumprir. Ele farta-se de mentir e a mim parece-me que essa história de 2009 ser um ano mau não passa de uma mentira.

J: Mas com que objectivo o primeiro-ministro iria pintar um cenário negro?...
MT:
Para assustar as pessoas. Não se esqueça que para o ano há eleições legislativas e a ideia é dizer às pessoas que as coisas estão tão mal, tão mal que elas devem ter medo. E os portugueses com medo costumam votar em quem lá está, por medo de mudança.

J: Bom, parece-me algo exagerado… Então acha então que o próximo ano vai ser melhor que este?...
MT:
Não me parece.

J: Mas…
MT:
Acho mesmo que vai ser um ano péssimo. E em termos nacionais, muito francamente se pedir a minha opinião eu acho que a única solução era fazer o inventário, fechar o país e entregá-lo aos credores, obviamente. E quanto mais depressa melhor porque como sabe nas falências se a coisa não for grave, os credores ainda podem manter-nos a laborar durante algum tempo. Porque se for grave, somos todos despejados e eu pessoalmente não tenho para onde ir...

J: Isso parece-me muito exagerado. E em termos internacionais?
MT:
Aí estou mais optimista.

J: A sério?
MT:
Sim, acho que a situação pode piorar muito.

J: Você engana-me sempre, sou muito ingénuo.
MT:
Não seja convencido. Ingénuo?! Isso é um eufemismo, você é mesmo é parvo.

J: Nem tanto. Mas pode piorar como?
MT:
Uma coisa lhe posso dizer com alguma certeza e mesmo com alguma desilusão: o mundo não vai acabar em 2009. Mas vai andar lá perto e isso é um motivo de orgulho para todos nós.

J: Bom e foram os votos para o novo ano de Mauro Tristão. Bom ano também para si Mauro, até para o ano.
MT:
Bom ano para si, embora muito francamente eu não sei se você se vai aguentar para o ano. Mas quem sou eu para fazer previsões?!... Não é?...

23.12.08

Natal Tristão

Jornalista: E como é habitual temos connosco Mauro Tristão, o nosso pessimista de serviço para o comentário semanal. Não sei se quer destacar a boa notícia da semana que passou?...
Mauro Tristão: Para mim todas as notícias são más.

J: Compreendo, mas de certeza que das diversas notícias há-de haver uma positiva. Vejamos… O não do parlamento europeu às 65 horas de trabalho, parece-me a melhor notícia da semana…
MT: A si e a toda a gente.

J: Mas o problema é?...
MT: Não há problema nenhum. Era uma estupidez aumentar o horário de trabalho. A Europa está pobre, estamos à beira da recessão, da falência e do desaparecimento e como sabe, nunca foi a trabalhar que alguém ficou rico.

J: Está a ironizar?
MT: Não tenho a certeza.

J: Bom fiquemos assim, talvez possamos mudar de assunto. Por exemplo, a condecoração de Manoel de Oliveira…
MT: Isso é que não. Já não aguento falar desse homem. É como um emplastro que nunca mais morre. Anda sempre a fazer o último filme há mais de trinta anos. Ele não merecia uma condecoração, merecia era uma certidão de óbito.

J: Mas mesmo não gostando dos filmes de Oliveira…
MT: Quem é que lhe disse que não gosto? Gosto e muito, dos bons obviamente, porque ele faz alguns filmes que nem o mais reles principiante desse antro a que chamam Escola de Cinema conseguia fazer. Às vezes pergunto-me se ele ainda vê e sobretudo se ouve. Uma coisa é certa, a cinematografia de Oliveira sofre nitidamente de Alzheimer.

J: (Cof! Glup!) Bom, mudemos de assunto. Tentemos por exemplo os sapatos contra Bush…
MT: Ora aí está uma excelente notícia.

J. A sério?
MT: Desta vez é a sério. Repare que o facto de aquele jornalista iraquiano mandar os seus sapatos contra Bush, revela toda a situação do Iraque. Por um lado, mostra que o Iraque já é um país livre. Pelo menos para atirar sapatos ao Bush. Repare que até na América, apesar de quererem muito, nunca ninguém tinha tido coragem para o fazer. Depois, o jornalista não conseguiu acertar. O que demonstra que ainda assim, é cedo para retirar as tropas americanas. Os iraquianos ainda precisam de tempo para afinar a pontaria. Acho que Bush deveria visitar o Iraque novamente daqui as uns meses…

J: Ok. Não o vou maçar com mais assuntos. Teremos oportunidade de voltar a alguns deles em próximas semanas. Mas vou terminar com algo que, imagino, não deve gostar muito: o Natal!
MT: Como é seu apanágio, está enganado. Gosto muito do Natal.

J: Isso não deixa de ser surpreendente…
MT: É das minha épocas favoritas.

J: Mas o que é que o faz gostar do Natal, é o espírito natalício?…
MT: Obviamente que não. O espírito natalício é todos os anos esfaqueado até à morte dentro de catedrais do consumo. A coisa mais abjecta da nossa civilização continua a ser a obscenidade da entrega de prendas a crianças ranhosas que se babam em cima de brinquedos que só vão ver nessa noite ao rasgar o papel de embrulho.

J: Mas este ano segundo os dados que temos, os portugueses estão a gastar menos...
MT: Estou muito contente por saber que esta gentinha toda este ano está tão miserável que finalmente deixaram-se de consumismos exacerbados. Pena é que continuem a comprar aquelas bugigangas chinesas asquerosas que ao fim de um tempo perdem a tinta ou ganham gordura nos cantos e tornam-se apenas bibelots de lixo e bactérias. Mas as pessoas sempre gostaram de viver no meio da porcaria…

J: Mas o que é que gosta no Natal?
MT: O que eu gosto mesmo, é da noite de Natal…

J: Ah! A reunião da família?...
MT: Se você tivesse uma família como a minha, onde entre outras alimárias se contam três alcoólicos, duas velhas neuróticas, uma tia perigosamente psicótica, um irmão esquizofrénico – o melhorzinho, de resto – e outro que é um perigoso homicida, percebia porque é que eu passo o Natal sozinho, muito obrigado.

J: Estou a ver…
MT: Não está, nem imagina. Mas posso dizer-lhe que guardo muitas boas memórias da noite de Natal.

J: Ah! Então junta-se com amigos em volta do bacalhau...
MT: Não seja palerma. Gosto do natal porque é a altura que anda toda a gente entretida com compras, fechadas em centros comerciais e assim não me chateiam. Até porque à distância, adoro ver pessoas desesperadas a correr de um lado para o outro como baratas tontas alternando entre a raiva pelas outras pessoas que os atrasam e o espírito natalício que é suposto terem. Muito perto do sindroma bipolar, maníaco-depressivo como um dos meus primos…

J: Então e o que faz na noite da consoada?
MT: É a altura ideal para passear pelas ruas, sozinho. Não se vê vivalma, não há ninguém para me chatear, não há palermas como você, de andar apressado ou a buzinar, rua abaixo, rua acima. É o paraíso.

J: Parece-me um pouco frio para passear...
MT: Em Porto Alegre, no Brasil? Não. Nesta altura do ano está sempre calor. Vou sempre no dia 23 e só volto no dia 5 de Janeiro.

J: Quer dizer que parte hoje?
MT: Exacto.

J: Bom Natal para si, Mauro Tristão.
MT: Curiosamente, a Natal não vou. Mas Bom Natal para si.

J: E Bom Natal também para aqueles que nos seguem. Até para a semana com o comentário de Mauro Tristão em directo do Brasil…
MT. "Em directo"... Você nem no Natal pára com as aldrabices…

18.12.08

Tem piada...



Há também uma versão "Benfica e o adeus à Uefa" aqui. Encontrei os dois aqui.

16.12.08

Comentário de Mauro Tristão ao BPP

Jornalista: O governo salvou o Banco Privado Português e assim impediu a falência daquele banco numa altura em que atravessamos uma crise mundial sem precedentes. Pergunto-lhe a si, Mauro Tristão, isto é uma boa notícia?
Mauro Tristão: É uma boa notícia, sem dúvida.

J: A sério? Acha que a salvação do BPP é uma boa notícia?
MT: Não. Referia-me à crise mundial sem precedentes. O que o governo fez com o BPP é um escândalo.

J: Quer explicitar?
MT: Antes de explicitar gostava de fazer uma declaração de interesses. Eu uso muito uma caixa de multibanco do BPP e a maioria das vezes a máquina está sem papel para dar talões e das outras vezes não tem dinheiro ou tem problemas técnicos. Pelo que, o meu ódio por tudo o que tenha a ver com este banco, é infinito. Isto, no entanto, não altera em nada a minha opinião sobre o assunto…

J: Muito bem. E qual é então a sua opinião sobre o assunto?
MT: Acho que o BPP devia ter ido à falência, os bens confiscados, balcões e sede destruídos e pulverizados com venenos potentes que não permitissem nunca mais, que crescesse sequer uma erva daninha em nada que tenha pertencido a essa casa de malfeitores com nomes esquisitos.

J: Nomes esquisitos?
MT: Nomes esquisitos pois! Rendeiro por exemplo. À partida, ter dinheiro num banco dirigido por um homem chamado Rendeiro, podia pensar-se que renderia. E rendeu. Mas para quem? Para o Rendeiro. Os senhorios, esses, ficaram a arder, e ficariam a arder com muito mais não fosse o caso de o estado pagar os estragos. Nos senhorios temos gente como Saviotti. Pergunto-me, quem é que tem um nome assim?

J: Os italianos.
MT: E que são os italianos conhecidos por?...

J: Por serem mafiosos?...
MT: É verdade, mas os italianos são sobretudo conhecidos por serem parvos – veja o Berlusconi –, e este Saviotti não foge à regra, tanto que se deixou enganar por um Rendeiro muita mais mafioso que ele. Isto explica tudo.

J: Mas não explica porque é que o governo decidiu salvar o BPP…
MT: Mas explico eu para que não se pense que este governo anda a salvar coisas, quando toda a gente sabe que este governo anda sim a destruir tudo, desde o sistema nacional de saúde, passando pelo sistema educativo até à auto-estima das crianças do primeiro ciclo que tem que usar um Magalhães todos os dias.

J: Então porque é que o governo salvou o BPP? Terá sido, como Teixeira dos Santos disse, porque isso afectaria a imagem de Portugal no estrangeiro?
MT: Isso não pega. Toda a gente sabe como é difícil a Portugal ter ainda pior imagem no estrangeiro onde somos conhecidos pelo ‘P’…

J: Pelo ‘P’?...
MT: Sim. De “PIGS” de Portugal, Italy, Greece e Spain. Teixeira dos Santos mentiu. O que não é novo.

J: É verdade, ele chegou a dizer que não existiam mais bancos em dificuldades.
MT: Mentiu e muito bem. É o trabalho dele. Os ministros das finanças o que não podem é dizer a verdade. Era o mesmo que o seu contabilista andar a contar a verdade sobre as suas contas. Gostava?

J: Não é que eu tenha nada a esconder, mas não gostava…
MT: Ora aí está. O segredo é a alma do negócio e no que toca a ministros das finanças, o negócio é o orçamento e a mentira é o segredo da alma. Se o ministro das finanças dissesse a verdade, o que ele dissesse passaria a ser falso só porque ele o disse. Percebe?

J: Não.
MT: Então, é porque me estou a explicar bem. Passemos à frente. E feche a boca. Vejamos então… O governo não salvou o BPP. É tudo uma farsa…

J: Uma farsa?
MT: Sim, uma farsa. O que o governo fez foi esconder a falência do BPP.

J: Quer explicitar?
MT: Quero.

J: Então, força.
MT: Força, não. Força faço eu na casa de banho. Faça favor…

J: Desculpe… Faça favor.
MT: Obrigado. O governo no fundo nacionalizou a falência ficando com os bens do banco e vai agora vender o banco aos bocados. Ninguém diz nada disto porque o banco é de ricos e é preferível fazer passar a ideia que o governo salvou um banco dos ricos. Mas é falso. Os ricos não dizem nada porque têm rabos de palha e ainda têm algum dinheiro lá encavado que não perderam. Mas este vai ser o banco que o Sócrates salvou. Quer o Rendeiro, quer o Saviotti entre outros vão ficar eternamente agradecidos a Sócrates e sabe o que isso significa?

J: Não.
MT: A par com o BPN e por causa desta crise financeira, significa que o estado já não vai ter que se vergar aos interesses económicos. O que é um escândalo.

J: Pensei que era bom.
MT: Nem pensar. Prevejo o pior. Qualquer dia deixamos de ter razões para acusar o estado de ser fraco e nesse dia arriscamo-nos a que ele se torne forte. E só há uma coisa pior que um estado fraco que se verga aos interesses económicos que é um estado forte que não se verga aos interesses económicos. Nessa altura vai-se vergar a que interesses? Nem quero imaginar…

J: Muito obrigado Mauro Tristão, o nosso pessimista de serviço. É tudo por esta semana. Para a semana, cheira-me que vamos continuar a falar de bancos…
MT: A mim também me cheira mal, mas como não tomo banho há uns dias pensei que fosse disso…

15.12.08