16.12.08

Comentário de Mauro Tristão ao BPP

Jornalista: O governo salvou o Banco Privado Português e assim impediu a falência daquele banco numa altura em que atravessamos uma crise mundial sem precedentes. Pergunto-lhe a si, Mauro Tristão, isto é uma boa notícia?
Mauro Tristão: É uma boa notícia, sem dúvida.

J: A sério? Acha que a salvação do BPP é uma boa notícia?
MT: Não. Referia-me à crise mundial sem precedentes. O que o governo fez com o BPP é um escândalo.

J: Quer explicitar?
MT: Antes de explicitar gostava de fazer uma declaração de interesses. Eu uso muito uma caixa de multibanco do BPP e a maioria das vezes a máquina está sem papel para dar talões e das outras vezes não tem dinheiro ou tem problemas técnicos. Pelo que, o meu ódio por tudo o que tenha a ver com este banco, é infinito. Isto, no entanto, não altera em nada a minha opinião sobre o assunto…

J: Muito bem. E qual é então a sua opinião sobre o assunto?
MT: Acho que o BPP devia ter ido à falência, os bens confiscados, balcões e sede destruídos e pulverizados com venenos potentes que não permitissem nunca mais, que crescesse sequer uma erva daninha em nada que tenha pertencido a essa casa de malfeitores com nomes esquisitos.

J: Nomes esquisitos?
MT: Nomes esquisitos pois! Rendeiro por exemplo. À partida, ter dinheiro num banco dirigido por um homem chamado Rendeiro, podia pensar-se que renderia. E rendeu. Mas para quem? Para o Rendeiro. Os senhorios, esses, ficaram a arder, e ficariam a arder com muito mais não fosse o caso de o estado pagar os estragos. Nos senhorios temos gente como Saviotti. Pergunto-me, quem é que tem um nome assim?

J: Os italianos.
MT: E que são os italianos conhecidos por?...

J: Por serem mafiosos?...
MT: É verdade, mas os italianos são sobretudo conhecidos por serem parvos – veja o Berlusconi –, e este Saviotti não foge à regra, tanto que se deixou enganar por um Rendeiro muita mais mafioso que ele. Isto explica tudo.

J: Mas não explica porque é que o governo decidiu salvar o BPP…
MT: Mas explico eu para que não se pense que este governo anda a salvar coisas, quando toda a gente sabe que este governo anda sim a destruir tudo, desde o sistema nacional de saúde, passando pelo sistema educativo até à auto-estima das crianças do primeiro ciclo que tem que usar um Magalhães todos os dias.

J: Então porque é que o governo salvou o BPP? Terá sido, como Teixeira dos Santos disse, porque isso afectaria a imagem de Portugal no estrangeiro?
MT: Isso não pega. Toda a gente sabe como é difícil a Portugal ter ainda pior imagem no estrangeiro onde somos conhecidos pelo ‘P’…

J: Pelo ‘P’?...
MT: Sim. De “PIGS” de Portugal, Italy, Greece e Spain. Teixeira dos Santos mentiu. O que não é novo.

J: É verdade, ele chegou a dizer que não existiam mais bancos em dificuldades.
MT: Mentiu e muito bem. É o trabalho dele. Os ministros das finanças o que não podem é dizer a verdade. Era o mesmo que o seu contabilista andar a contar a verdade sobre as suas contas. Gostava?

J: Não é que eu tenha nada a esconder, mas não gostava…
MT: Ora aí está. O segredo é a alma do negócio e no que toca a ministros das finanças, o negócio é o orçamento e a mentira é o segredo da alma. Se o ministro das finanças dissesse a verdade, o que ele dissesse passaria a ser falso só porque ele o disse. Percebe?

J: Não.
MT: Então, é porque me estou a explicar bem. Passemos à frente. E feche a boca. Vejamos então… O governo não salvou o BPP. É tudo uma farsa…

J: Uma farsa?
MT: Sim, uma farsa. O que o governo fez foi esconder a falência do BPP.

J: Quer explicitar?
MT: Quero.

J: Então, força.
MT: Força, não. Força faço eu na casa de banho. Faça favor…

J: Desculpe… Faça favor.
MT: Obrigado. O governo no fundo nacionalizou a falência ficando com os bens do banco e vai agora vender o banco aos bocados. Ninguém diz nada disto porque o banco é de ricos e é preferível fazer passar a ideia que o governo salvou um banco dos ricos. Mas é falso. Os ricos não dizem nada porque têm rabos de palha e ainda têm algum dinheiro lá encavado que não perderam. Mas este vai ser o banco que o Sócrates salvou. Quer o Rendeiro, quer o Saviotti entre outros vão ficar eternamente agradecidos a Sócrates e sabe o que isso significa?

J: Não.
MT: A par com o BPN e por causa desta crise financeira, significa que o estado já não vai ter que se vergar aos interesses económicos. O que é um escândalo.

J: Pensei que era bom.
MT: Nem pensar. Prevejo o pior. Qualquer dia deixamos de ter razões para acusar o estado de ser fraco e nesse dia arriscamo-nos a que ele se torne forte. E só há uma coisa pior que um estado fraco que se verga aos interesses económicos que é um estado forte que não se verga aos interesses económicos. Nessa altura vai-se vergar a que interesses? Nem quero imaginar…

J: Muito obrigado Mauro Tristão, o nosso pessimista de serviço. É tudo por esta semana. Para a semana, cheira-me que vamos continuar a falar de bancos…
MT: A mim também me cheira mal, mas como não tomo banho há uns dias pensei que fosse disso…

2 comentários:

MJLF disse...

Gostava de ver esta entrevista - a mais conseguida do Mauro Tristão até agora - em soquete branca, tipo pé de gesso.
Maria João

grande disse...

:) Obrigado.