3.2.09

O fim da crise e toda a verdade sobre o estranho caso do Freeport

Por Mauro Tristão, pessimista de serviço

A boa notícia desta semana foi o fim da crise. Já não era sem tempo. Infelizmente, o fim da crise ficou a dever-se aos novos capítulos de uma novela passada em Alcochete e que mete a família real britânica. Trata-se de mais uma grande produção de ficção nacional que tem entretido os portugueses e os tem agarrado às notícias como cães a um osso velho. Mas, pelo menos, nunca mais se ouviu falar da crise que nos assolava.
O enredo desta novela remonta ao início da década, quando um personagem maligno de nome Zeferino Boal engendrou uma carta anónima com o inspector Elias Torrão da Judiciária, e com o inspector Tiger da Scotland Yard, expondo o estranho caso do Freeport. Aqui começa a trama e a vulgaridade do guião. Na verdade os nossos guionistas são muito maus e apontam sempre para o cliché em vez de tentarem ser criativos. Ora, chamar ao vilão Zeferino Boal, é um chavão de todo o tamanho. Pior só se lhe chamassem Cipriano Bocagrande. Já o inspector Tiger é uma agradável referência a um sketch dos Monty Python, pelo que se saúda.
A novela não passa de um pastelão sensaborão que faz do Equador uma obra-prima. O personagem principal é um homem que desenhava casas horríveis até ter comprado um curso de engenharia e se ter tornado homossexual, para ter algum sucesso num partido político que passava o seu tempo numa casa em Elvas com meninos da Casa Pia. Outro chavão é utilizado para o nome do protagonista: Sócrates. Torna-se óbvio que o personagem no final virá a morrer envenenado por não querer renunciar à verdade: o Magalhães é um embuste. Fica a saber-se que parte da culpa é da mãe de Sócrates que começa por ir viver para o mesmo prédio do filho e da sua mulher (era casado antes de se dedicar ao Freeport), provocando o divórcio dos dois. A mãe compra o apartamento a uma empresa off-shore que perde dinheiro na venda e mais tarde vai vingar-se subornando-lhe o filho que entretanto chega a Ministro do Ambiente. É aqui que entra o tio, um homem com um princípio de Parkinson e um final de Alzheimer que envia o filho para a China, para um centro de artes marciais. A missão do filho do tio é preparar-se para o grande duelo final com Zeferino Boal.
A “british connection”, um tal de Smith, juntamente com um português com o nome de Pedro (mais uma vez, uma referência desnecessária, aqui ao apóstolo que renegou Cristo três vezes) são a ligação entre Sócrates, o tio, o primo, o dono do Freeport, a família real inglesa e Mohamed Al-Fayed. E porquê Al-Fayed? Por causa do seu filho Dodi que a família real mandou “sumir” juntamente com Diana. A verdade é que com a aprovação das alterações à ZPE, Sócrates, não só aprovou o Freeport, como alterou o fluxo normal de migração dos Maçaricos de Asa-Longa para Inglaterra, impedindo assim, a descoberta de que foi a família real que pagou ao poste para se atirar para a frente do carro de Dodi e Diana. Conseguindo ainda a nomeação da coroa inglesa para primeiro-ministro de Portugal.
O enredo parece intricado mas não é. Na verdade, posso até desvendar o final para desilusão de toda a gente que ainda me esteja a ler: a culpa é do casal McCann. Temo que a partir daqui o nosso país entre em entropia seguida de dissolução das instituições. Parece-me até improvável que se consigam fazer eleições este ano, entre os tumultos anunciados, os motins inevitáveis e o burburinho no café aqui em baixo que me deixa louco. Estou deserto para que comecem os motins para eu acabar com isto.

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