5.11.03

O grande desígnio: vai e compra!

Hoje ante-estreia a terceira parte da saga Matrix. Antigamente os filmes eram únicos, como qualquer obra de arte. Por vezes a regra era quebrada como acontece também nas obras de arte (trípticos). Mais tarde introduziu-se as sequelas, depois as prequelas, hoje os filmes aproximaram-se das séries.
Como a estreia é mundial adivinham-se milhões de fans a quererem ser os primeiros a ver o filme. Filas enormes para compra de bilhetes, gente que se acotovela devido ao excessivo número e salas lotadas com gente para ver e ouvir as novidades do mundo Matrix. Nada disto é confortável, nada disto dá prazer a não ser o simples facto de serem dos primeiros a assistir ao filme. Comparado com 8 horas de fila, ao frio, durante a noite para comprar o novíssimo disco de um qualquer cantor ou cantora popular, até que nem é um grande sacrifício. Porém, o filme vai estar em cena durante muito tempo em cinemas calmos e arejados e o disco mesmo que esgote, numa questão de dias voltará a estar nos escaparates. É óbvio, que isto nem sequer é parecido com o sacrifício de comprar um bilhete de concerto ou de futebol. O concerto é unico, o jogo também, como o seria uma edição limitada de um disco, ou a possibilidade de o autor o autografar (e mesmo assim!). Então porquê esta fúria consumista? Porquê estes sacrifícios para alcançar algo tão efémero e etéreo, quando o consumismo deveria ser prazer e conforto?
Suponho que este é o mundo em que vivemos. Onde algo tão aparentemente fútil é a almejada marca de distinção que alguns buscam independentemente do sacrifício. São causas, são motivos para se superarem, são medalhas que se ganham, feitos que se conquistam... E aqui estamos nós reduzidos à pequenês da Ilíada dos pobres de espírito. Restam as questões: será que isto demonstra que nos nossos tempos, até o comum dos mortais pode ter um feito a alcançar, como noutros tempos nunca teve por falta de condições, liberdade, etc., ou quer isto dizer que apenas deixámos de pensar grande para pensar e fazer mesquinho? E o individualismo destes feitos, não serão a causa da sua redução? E os marinheiros portugueses das descobertas? E que mais poderá haver para conquistar senão isto? E os heróis actuais?...
É o mundo que temos... ou fazemos?

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