5.12.05

Aí este País...

D. Rosa, criada em Belém. À janela, a estender roupa.

Ai credo, este país dá-me tantas ralações. O que é que se quer? Então isto está muito mal, sabe lá! É assim, não se entendiam, não se entendiam… Gastaram tudo. Agora claro. Falam, falam, falam, falam e ninguém tem razão.
Mas parece que vem aí um senhor novo… É verdade. Para mandar nisto melhor, é o que eu acho. Que o meu Jorginho até se portou muito bem e pouco me dava trabalho. Mas parece que não correu bem, coitado, ele não tem culpa. É tão boa pessoa… Ai Deus queira que o próximo seja assim. Sim, porque não se sabe quem é o próximo. Dizem que vem aí o velho outra vez. Ai credo, agora com esta idade é que me há-de calhar andar a limpar mijo de velhos. A trabalheira que vai ser. Porque depois os velhos estão sempre doentes e de cama. Eu bem sei o que passei com a minha querida mãe que me custou tanto a morrer…
Mas também dizem que é um rapaz novo, assim cheio de charme. Mas outros dizem que ele é um pau de virar tripas, que engoliu um garfo e mal mexe o pescoço… Não sei se quero… Aí! Sei lá o que me vai calhar…
Ah! Também dizem que talvez venha um poeta!… Isso é que eu precisava. O País não sei, mas a mim era o que me convinha, alguém que dissesse coisas bonitas, que trouxesse a alegria a esta casa… Sei lá!… Mas não se sabe… Sei lá se não me aparece um homem assim, viril e galante e dançarino… que ainda me desgraça… a casa, claro! Sei lá. Ainda me há-de aparece aí um malandro qualquer a fumar droga e a fazer festas até às tantas sem deixar os vizinhos dormir… Eu sei lá para o que estou guardada…
Tantas saudades que eu vou ter do meu Jorginho…
Olhe vizinha e agora adeus que vou fazer o Cor Fleques ao meu Jorginho que já deve ter acordado. Anda tão cansado coitadinho. Adeus…

… Fechando a janela.