24.4.06

32 anos depois



Os verdadeiros países mediterrânicos olham para as águas do belo Mediterrâneo, quentes e calmas e percebem que se trata, não de um verdadeiro mar, mas de um caldo sopeiro de onde nem os peixes saem em condições de fazer uma refeição digna desse nome. É um mar pindérico e até um pouco maricas. E nós, que nos deixamos apelidar de mediterrânicos e nem sequer lhe sentimos o cheiro nauseabundo, não andamos longe.
O Algarve ainda sente as correntes quentes do Mediterrâneo e talvez por isso, até muito tarde era um reino à parte. E só o deixámos fazer parte do país para o podermos “vender” aos ingleses.
Já o resto do país está todo virado ao Atlântico. Isso sempre foi um problema para nós. O Atlântico é forte, bravo, frio e indomavelmente apelativo… para a contemplação. Enquanto os países mediterrânicos olham o seu mar com a sobranceria do dono, nós portugueses, olhamos para o oceano com reverência. Só uma vez nos achámos capazes de o vencer e descobrimos o resto do mundo. Mas ainda não percebi o que correu mal dessa vez.
Certo é que, depois de vencermos o velho oceano nunca mais tivemos coragem para fazer nada. Mas depois de vencer tamanho gigante, que mais poderá haver de interessante para fazermos? No limite, fizemos uma revolução calma e sem grandes brigas porque cansados já todos andavam do regime anterior. Afinal de contas só os cubanos (e brevemente os madeirenses) têm a chinesa paciência para um regime ditatorial como nós.
Entretanto, e desde um velho que havia no Restelo sempre a dizer mal do Belenenses, o nosso desporto é dizer mal da vida e do País. Sempre com queixas. Sempre pessimistas, negativistas, desalentados, deprimidos, críticos, cínicos, tristes e com uma sensação estranha de que alguém nos está a enrabar suavemente.
É por isso é que eu gosto de brasileiros, eles vivem cá no mesmo país que nós mas continuam a dizer bem do país! Todos sabemos que é mentira, mas fica-lhes bem e eu gosto de ouvir. Alguém tem que dizer bem disto! E eles, que no Brasil se sentem enrabados a sangue frio, sabem melhor que ninguém o que é bom!
Nós devíamos começar a aprender com eles. É por isso que acho bem que nós, pobres portugueses desgraçadinhos, façamos cada vez mais viagens de sonho, simples férias e muitas luas-de-mel à América do Sul. Para ver se aprendemos de uma vez por todas a saber comparar o nosso País. Saiam lá dos “resorts” nem que seja umas horitas e depois digam lá se Portugal não é o melhor país da América do Sul!
Porque não faz muito sentido nós andarmos a comparar Portugal aos outros países da Europa. Nem para nós nem para a Europa. Porque ficamos sempre em últimos em tudo e é por isso que andam para aí a dizer que estamos na cauda da Europa…
Mas olhem para o mapa, reparem que Portugal parece a cara da Europa?... Sendo que a Espanha é a cabeça e a Galiza a popa. O resto não sei onde está, mas desconfio da Suécia nas moedas de euro como sendo o pénis em descanso e claro, uma das botas é a Itália. E a minha pergunta é: se Portugal é a cara da Europa, e nós estamos na cauda da Europa, será que a Europa tem cara cú?
Eu acho que não. Mas a verdade é que, a sermos a cara, a Europa é feia como um trovão. Já viram a penca que temos? É pior que a do Júlio Isidro! Bem, talvez nem tanto…
Mas nós não nos devíamos queixar e lamentar. Nem sei como não nos cansamos. Acho que devíamos era perceber que isto não é mau de todo. Devíamos apreciar o que temos, aproveitar ao máximo! Porque a tendência é para isto piorar muito.
Não é para ser pessimista, nem negativista, nem crítico mas eu acho que isto vai ficar muito, muito pior. Acho mesmo que é o fim do mundo tal como o conhecemos. Ou pelo menos, o fim de Portugal tal como o conhecemos. Digo isto porque toda a gente diz que finalmente o Governo está fazer o que devia pelo País. E eu acho isto muito estranho e tenho medo! Por este andar, qualquer dia, até os deputados começam a ir à Assembleia e a… trabalhar… sei lá, estou confundido.

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