16.8.05

Mais valia Marrocos!

A campanha eleitoral alentejana foi um desastre. Desde logo, porque nem o Alentejo estava grande coisa, nem nós lá estivemos. As terras algarvias, apesar de igualmente solarengas, não têm o mesmo espírito.
Dizia-me uma vez um engenheiro alentejano que os donos das herdades quando se questionavam acerca de quem tinham a trabalhar na terra, diziam qualquer coisa como: 20 homens, 14 mulheres e 3 gavetos! Os gavetos eram os Algarvios que gozam da fama de não comer à mesa, mas sim na gaveta não vá alguém bater à porta e querer partilhar a comezaina.
Ainda assim, Aljezur não está mal. Com tantos alemães, a terra de inspiração moura e residência temporária “beta”, ganha uma vida diferente do restante interior algarvio.
Safou-nos o Morgado da Canita e a conversa dos pretos de esquina. E as noites algarvias lá se foram mastigando e os dias descansando. Mas mal, que no Algarve, nem se descansa como no Alentejo.
Finalmente, confesso, com tristeza e envergonhado que não visitámos a Sô Dona Pêra Manca. Eu tentei, mas não me deixaram. Nunca chegámos à fala com ela. Não pudemos pois provar-lhe nem o tinto nem o branco, quanto mais o licor. Não lhe perguntámos de quem é ela viúva, nem de onde lhe vem a pose altaneira. Não lhe provámos os queijos cuidadosamente alinhados no tabuleiro sobre os copos, não lhe espreitámos ao frigorifico, para ver se ela ainda lá guarda memórias frescas. Não lhe ouvi o galo a cantar nem lhe pude perguntar: Oh Sô Dona Pêra Manca, porque é que as duas fotografias são iguais?
Não pude nada disto. Eu bem quis. Mas não me deixaram. Quando não se sabe viver arranjam-se formas inteligentes de morrer.
A única coisa que posso afiançar é que ninguém morreu de remorsos.

Sem comentários: