22.9.07

4 anos

"Olha?! Grande coisa!"

Acho graça à coisa. Mete-se em todo lado, não é? Comigo, pelo menos, é. Ele é coisa aqui, coisa ali. No fundo sempre a coisar.
Falo na palavra coisa. Gosto da palavra coisa. É a palavra mais completa que existe. Tudo é uma coisa. Mesmo o que não existe. Pensem em algo que não exista... Se conseguem pensar nisso, isso é uma coisa.
Coisa é para lá de Universal. Na bíblia diz que Deus criou todas as coisas. Teve que criar tudo, pois claro, porque não havia coisa nenhuma. Mas Deus não criou a coisa. Porque antes de ele criar todas as coisas já existia uma coisa: ele! Isto claro se acreditarmos nele. Mas isso é outra coisa.
A coisa é tão antiga que dantes dizia-se cousa. E o direito até tem um ramo só para as coisas. É o direito das coisas.
Reparem que a palavra coisa não tem sinónimo e, ao mesmo tempo, é um sinónimo para tudo. Dizer uma certa e determinada coisa é exactamente a mesma coisa que dizer qualquer coisa!
Um amigo meu costumava dizer: Uma coisa é uma coisa, agora, outra coisa é outra coisa, completamente diferente. É verdade que ele diz isto quando bebe demais, mas, nesta altura, é quando ele diz coisa com coisa.
Aliás, ele normalmente, usa a palavra coisa para tudo: Coisa para aqui, coisa para ali… É uma língua dentro da própria língua portuguesa. É a linguagem das coisas. Outro dia disse-me:
— Passa-me aí a tua coisa.
— Qual coisa?
— Essa coisa.
— Mas qual?
— Essa coisa aí comprida com as duas coisinhas por baixo. — E eu dei-lhe o galheteiro e perguntei:
— Mas para que é que queres isto?
— É para pôr aqui na coisa.
— Ah! Olha grande coisa que aí tens.
Mas ele vai mais longe. Ele trata toda a gente por coisa: Epá, vem cá a casa e traz a tua coisa. Ou então:
— Outro dia dei de caras com a coisa...
— Qual coisa?
— A coisa, a mulher do coiso que é primo daquela que tem aquela coisa enorme, assim cheia de coisas... Tu até costumavas lá ir?
— Ah pois, a coisa… Estou a ver… — o leitor não estará, mas eu, na altura, vi.
Mas, a vida do meu amigo continuava difícil porque ele, ainda assim, tinha de se lembrar dos verbos. Outro dia disse-me: Coisa-me aqui a coisa… E eu disse-lhe: Coisa-a tu! Que eu não gosto de mexer nas coisas dos outros.
A parte boa da situação é quando ele se chateia. Acaba por ser muito simpático. Isto, apesar de ele ter um génio horrível e, quando se chateia, começar a insultar toda a gente: Cambada de coisos. Vão pá coisa que vos coisou. Coisões!
Fica chateado… Os outros, perplexos.
Mas há outra palavra que me fascina. Porque consegue exprimir todas as emoções de um homem, que também não são muitas. Ou seja: Foda-se!
É verdade. Por exemplo, se estamos irritados, largamos um foda-se violento na direcção do chão. Se estamos alegres, largamos um foda-se bem disposto para o ar! Se somos bem surpreendidos, largamos um foda-se aberto e arrastado. Mas se for uma triste desilusão, largamos um foda-se melancólico, suave e longo...
Eu até podia continuar, foda-se! Mas, se não me levam a mal, não estou acostumado a escrever tanta caralhada em público e por isso prefiro não dar mais exemplos. Senão, esta merda fica muito pesada. É preciso, no entanto, dizer que foda-se também está popularizado como fodasse e que, no tempo dos nosso avós, dizia-se phoda-se Vossa Excelência. Hoje em dia, há pessoas que, para aliviar o foda-se, preferem coisas mais suaves como fónix! Ou fosga-se! Ou então, o famoso dasse! Eu, pessoalmente, tenho há muito tempo, um carinho especial por nheda-se! Mas isso, sou eu.

Parabéns Coisa!

5 comentários:

MJLF disse...

Que coisa! Esta coisa muito coisada e grande, normalmente tu escreves coisas pequenas, deve ser por não seres grande coisa, agora esta coisa cresceu, a cousa é boa coisa, concordo, até porque coisaste bem isto.
:)
Maria João

Anónimo disse...

Parabéns. Sugestão de leitura: Martin Heidegger, «Que é uma Coisa?», Biblioteca de Filosofia Contemporânea, Edições 70.

grande disse...

Obrigado aos dois.

Vardagsmat disse...

Não da para falar artigulo em ves de coisa?

Anónimo disse...

Não é a mesma coisa...