17.9.07

Portugal. Esta merda! História não revista para incrédulos 15

O Mito, o Sebastião e os espanhóis
Portugal para ser país, teve que ser mais do que muitos outros. Por isso o Afonso viu um anjo, por isso somos um dos três países que teve direito a ter uma epopeia épica. A única, escrita por um zarolho. E também por isso, o Sebastião não morreu e há-de voltar numa manhã de nevoeiro. Numa manhã de nevoeiro... É que para lá do incompetente, ficou-nos o salvador. A ideia de um salvador, tanto dá para o bem, como para o mal.
Na verdade, segundo o Sebastianismo, estamos à espera de um adolescente, de um incompetente e de um sujeito com ar amaricado para nos vir salvar. Mas é preciso perceber que nós falimos de vez na altura em que estava um espanhol a desbaratar-nos o império. E se Sebastião voltasse, a coisa só podia melhorar...
A “ocupação” espanhola revoltava muito o país, que agora percebia o medo dos espanhóis que sempre nos dominou. A escolha foi clara: mais vale um rei incompetente que um rei espanhol. Eu não acho mal. Aliás, os bascos têm uma grande admiração por nós, exactamente por sermos a única região espanhola verdadeiramente independente. E isso não é para todos. E mesmo em seiscentos também não era. Era só para nós e por isso até um incompetente era melhor que um espanhol. Quem dera aos bascos terem um incompetente. Por outro lado, os outros espanhóis gostavam que todos os bascos fossem incompetentes.

3 comentários:

MJLF disse...

Gosto muito do anjo, do zarolho e do Mito, amigo do coração, o nada que é tudo, já dizia o bebado esquizado. Quanto ao Sebastião salvador é a nossa costela judaica, o messias que irá voltar no nevoeiro, mais um Mito, digo isso muito sóbria, aprecio a aura que estes arquetipos têm, eles dão muito colorido às narrativas. Quanto aos espanhois são a nossa sombra, o Jung era capaz de gostar muito destes aspectos do nosso país. Olha escreveste " Aliás os bascos, têm uma grande admiração por nós"; eu não sou esquisita, mas colocas-te uma virgula entre o sujeito(os bascos)e o predicado (o verbo ter); não trates mal o português, porque ao menos os bascos têm uma grande admiração por nós. O português é uma língua um bocado desregrada, mas não se respira aí, ó Mosqueteiro!
;)
Maria João

grande disse...

Correcção feita! Haja alguém que "reveja" esta História :) O meu problema é que tenho tendência para pontuar como falo. Neste caso, depois de um "eu não acho mal", lançaria para o ar um "Aliás, os bascos..." e olharia em redor para ver a surpresa e o impacto dos bascos, antes de declarar que eles "têm uma grande admiração por nós". Uma nova pausa suspensiva e depois largaria a provocação. Mas enfim, isto não desculpa a minha pouca habilidade.
Por vezes, diz-se que Portugal tem um problema de identidade. Pode até ter um problema, mas não é de identidade. Essa está muito bem definida, com os seus próprios mitos fundadores e os seus arquétipos. O Jung gostaria, tal como o Pessoa se deliciou.

MJLF disse...

Pois eu já estive na provincia de Alava num festival a cantar um reprotório português, polifonia da Sé de Évora dos séc.XVI e XVII + "As três liricas Castelhanas" (um cocktail molotov composto por Camões e Lopes-Graça)e ainda outras peças de compositores nossos do séc.XX. Numa semana fizemos um concerto por dia em pueblos diferentes, os bascos receberam-nos de braços abertos, com jantares bem regados e actuavamos nas igrejas dos pueblos. No fim dos concertos cantavamos o hino basco, na língua autoquene, e ele levantavam-se todos para ouvir e aplaudir. Foi uma experiencia memoravel em todos os sentidos! Olha, eu aprendo a respirar com a música.
Maria João