4.9.07

Portugal. Esta merda! História não revista para incrédulos 12

A sublime “Arte Tuga”
Como é que um pequeno país chegou tão longe? Esta é a pergunta que se pode fazer, quando cinco séculos depois olhamos para ele... Há diversas razões e uma em especial que não aparece nos livros de História. Claro que, foi necessário ter organização, tecnologia, “escola”, sorte, contexto histórico favorável, etc., etc. Mas, a razão última foi a “arte” portuguesa por excelência: o Desenrascanço! Muito mal visto hoje em dia, porque é utilizado, não como cereja no topo do bolo, mas como substituto da organização e do planeamento. O Desenrascanço é uma capacidade imensa de inventarmos coisas, soluções, maneiras, razões, subterfúgios, etc., etc., para fazermos o que é preciso fazer ou chegar onde é preciso chegar. Implica uma fusão do ser com o que o rodeia. Um ser com flexibilidade e com inteligência interagindo com o inexorável que o rodeia com vista a resolver um problema.
Foi algo que aprendemos desde que nos tornámos independentes e aprimorámos com o Oceano e com o Vento que até "virámos" a nosso favor. No fundo, a “arte” de conseguir navegar à bolina, que como sabem implica um certo zigue-zaguear para chegarmos onde o vento não nos levaria de outra forma. Visto de longe, de resto, parecemos um pouco tontinhos... Mas chegamos lá.

6 comentários:

MJLF disse...

O desenrrascanço está bem presente na arte arquitectónica portuguesa: o manuelino nasceu nos descobrimentos, o primeiro verdadeiro estilo nacional, fruto de um desenrrascado gótico tardo-maritimo muito à frente, depois o estilo Raul Lino surgiu como um apanhado da nossa tradicional arquitectura popular,tem alma e boas construções e finalmente o clandestino, que impera em todo o lado, o nosso verdadeiro porta-estandarte que atravessou todas as epocas e periodos da história até à actualidade.
Maria João

Anónimo disse...

Pois eu não concordo bem com isso. Ser desenrascado não é conseguir formas expeditas de fazer as coisas. Isso é ser criativo e inovador. Ser desenrascado é arranjar maneiras expeditas de "quase-fazer-as-coisas" e deitar areia para os olhos dos menos atentos. O "quase-fazer-as-coisas" é dramático porque é talvez a expressão maior da falta de eficiência e competência e da perda de tempo.
E quando afirmamos que o português é desenrascado como se isso fosse uma qualidade, estamos a desenrascar a coisa novamente; estamos a afirmar de uma forma implícita que não sabemos fazer, que somos maus a planear, que somos incompetentes. E arranjamos essa coisa para, mais uma vez, deitar areia nos olhos do outro para que ele não veja a verdade nua e crua.
Nos descobrimentos tivemos a ajuda de muita gente de fora; cartógrafos, construtores navais, astrónomos, etc. franceses, italianos, holandeses...
Se fosse só à custa da nossa capacidade de desenrascar, as nossas descobertas marítimas tinham-se ficado pelas Berlengas.

Anónimo disse...

Só mais uma coisinha, para dar um exemplo.
Não sei já bem quem foi, se o treinador do Vitória de Guimarães, alguém assim, que dizia que nas duas primeiras jornadas da liga tinha conseguido duas "quase-vitórias", como se isso fosse um feito assinalável... É bem português... desenrascado nas palavras... :o)
Suponho que a sua "quase-equipa" esteja a jogar para a "quase-manutenção", e ele espere ficar-se pelo "quase-despedimento"... Eles hão-de desenrascar-se com certeza...
Abraço
Pedro

grande disse...

Meus caros,
Tal como eu disse, o Desenrascanço — que eu continuo a achar que é uma arte e uma virtude lusitana, ainda que não exclusiva — deve ser utilizado como “cereja no topo do bolo”. Ou seja, depois do planeamento, da organização, da disciplina e do trabalho, o Desenrascanço garante que se atingem os objectivos apesar das imprevisibilidades ou mesmo que se ultrapassem os objectivos iniciais. Faz isto parte de um quadro maior de flexibilidade, de abertura de espírito, de tolerância e de criatividade que o ser humano sempre necessitou para evoluir. Num Mundo em que a criatividade e a inovação são essenciais, seria muito mau que nós nos puséssemos a reprimir essa capacidade que temos. É óbvio, que o Desenrascanço utilizado para disfarçar a nossa pobreza é meio patético e utilizado para disfarçar a nossa preguiça é fatal. Mas feio, mesmo, é ver povos “sérios”, ricos, organizados e disciplinados como baratas tontas perante o imprevisto. E lindo, lindo, quando um tuga normal lhes resolve o assunto em três tempos...
Por exemplo...

Anónimo disse...

Eu teu exemplo é de facto um GRANDE exemplo. Pelo menos em extensão.
Mas fiquei sem perceber afinal que operação complicada era esta e que rasgo de génio teve o português... :o)

grande disse...

O rasgo, possívelmente, foi um Ctrl+Alt+Del, não sei. Mas que pôs um sistema de novo a funcionar, pôs. E salvou uma situação. Mas é só um exemplo no meio de muitos, a maioria deles ficam por contar e acontecem diariamente.